quinta-feira, 28 de junho de 2018

Saco de Plástico


Não me afogues já,
Quero tudo ao mesmo tempo!

 Que será isto de ser um saco de plástico? Só sei que bebo respirações à pressa e continuo a revelar estes estímulos que revogo para todos. Passo o tempo a rebentar chamadas para o futuro que há de nos encher as medidas, mas não somos jarros nenhuns para que eu ouse essa insolência que me parte todos os dias fora de casa.
 Trocamos a vida pelo que ela nos faz, e quem sou eu para despir e vestir a verdade enquanto encho o saco à bruta? Sou completamente louco pelo encher do vazio já cheio que engordo enquanto vou lendo as minhas existências, e ainda que seja o querer garrafa… acabo a querer ser saco, e não nos fartamos do choque nómada que é a cultura cultureira. Talvez sejamos todos sacos, mas se nós fartámos ou não é a questão que mais sacos enche, sacos esses que possivelmente acabam despidos a cada vez que trivializamos, como quando vamos às compras, mas nada é mais ténue que o estado de espírito de um saco de plástico, mesmo que o decidamos endurecer ao pagarmos um pouco mais. A nossa boca de sal tempera a comida em que não entramos pela goela abaixo, e por isso duvidamos que não haja enchimento cheio o suficiente para esvaziar tudo por aí espalhado ao sabor de tudo aquilo que nos frustrou silenciosamente.
 Quero a vida ao mesmo tempo, despejar não é o que abranjo nem será nunca a vontade fora das minhas sombras, ainda que não seja eu o sol que enche os sacos todos à hora esta de dia assim. Quiçá um dia me tenha afogado no saco de plástico para avançar pelo som do que não ouvi no autocarro, ou fazes faísca no saco ou o saco faz faísca, e ponho os fones a cada vez que vou às compras com as minhas crenças. Por estas e por outras gosto de partilhar os sacos com os meus amigos por aí por onde vivemos tresloucadamente lúcidos enquanto aparvalhamos e não aparvalhamos as compras.
 Outro dia quase desperdicei o saco que carrego com a vida toda, não sei se sei ou se sei saber em que dia foi, mas ouvi o eco do fundo e voltei-me para todos nós, poderá ter sido em Loures, Londes, Punta Cana, lado nenhum… Tudo o que sei é que se atingiram em mim as terras que explorei quando saiu de mim o que acontece em tudo isto que abraço fervorosa e carinhosamente, quer haja dono, quer haja nada, e nada disso vale tudo o que apenas valeu no antigo tempo que em mim de antigo nada tem. Desde esse dia divago silêncios e calo-os quase sempre, e a minha conversa enche e esvazia o saco, por isso talvez resulte por aí, é essa a incógnita do ar que passa pelo saco sem sequer lhe pagar o jantar primeiro, não se sabe e só se sente com um típico atraso. E sem me aperceber posso ter ganho pais novos que substituíram os anteriores, que tal como eu, já estavam velhos demais para encher o saco a seja quem for. Por isso tudo digo que às vezes devíamos apaziguar mais a nossa sorte, e também esmiuçá-la com a mais alta quietude… talvez.
 Acabo a saber e por saber que o meu saco está a abarrotar outra vez, mas tudo isto tem tanta piada que se calhar um dia ousarei voltar a voltar para casa.

sexta-feira, 22 de junho de 2018

Hiperatividade


Pelas escadas desta pureza
Chegaste ao teu destino tão abraçado a nada que naturalizasses,
Reflexas-te pelo cabelo abaixo ou pés acima,
Depende tudo das tuas manias.

A tua pele pós-suada aperta,
O teu cheiro embala os olhos duvidosos enquanto escuta os juncos tão navegantes como assassinos,
No teu corpo deslizavam as expressões…
Tens nele tatuadas palavras de carne,
Nas tuas mãos tens o teu sangue e o suor mais desconhecido,
Das tuas orelhas tiraste os brincos… rrrrrrr,
Fala!
Fala e por favor transpira,

Suaviza o teu corpo em alma de força,
Os animais fogem e deixam-te ser tu,
As pessoas deixam o teu lar sozinho,
Mas tudo é importante.
Ouve-se a água a correr em silêncio,
Ouvem-se os tremores de terra cariciantemente empreendedores nessa fúria,
#NadaMaisQueMais.


Quem te irá ouvir dizer o que estás a fazer calada,
O teu corpo afoga e reorganiza as trepadeiras,
Sentem-se as cócegas que as borboletas
Te fazem à ponta dos dedos (),
Quem te falou do prazer que lhes dás?

Os parques de estacionamento e as árvores guerreiam,
Suspiros pelo chão,
Ovelhas tosquiadas acordam os coelhos e fogem,
Sombras tremem como varas claras com medo constipado dos cantos profundamente mais ocultos,
Memórias despem violentamente os cérebros,
Suspiram-te… existem-te…
Escrutinam-te.
Leões uivam pelo nevoeiro a dentro,
O teu corpo esculpe toda a carne deles,
É o ritornelo do teu corpo a dar a carne
À verdadeira calma,
O teu suspiro
É o tal funesto
Do nascer da carne.

O plúmbeo quarto em que deitada acendes a lanterna,
Instante solitário em que te chamas,
O teu corpo talvez suado solta chamas só na ponta dos cabelos,
O teu cheiro é selvagem e o teu olhar impossível,
Quem disse que a alba era o escuro?
Quem disse que era o bulício que não te iria procurar?
Nada se contradiz,
O teu corpo grita a luz verde para a luz vermelha ou a luz vermelha para a luz verde,
E a lua desceu só para te ouvir cantar em agudo,
A tela está prestes a ser pintada,

Não há horas que sejam,
São todas,
As tuas mãos são a água que agarra a cama.

Atira o espírito ao mundo,
Envolve a realidade com o som do grito mais profundo dos teus sempre belos e tão doces lábios,
Diz a ninguém o que sonhas e por favor diz,
Não digas a chegada do pavão,
Não chames o Diabo antes do veredito,
Diz,
Não digas,
Não saibas,
Deseja ser no interior,
Levanta-te…!

O teu cabelo virou-se para trás,
As tuas pernas marcam o caminho com os saltos altos,
Os teus ouvidos ouvem os teus passos,
Os teus lábios sentem os teus passos.
Reflexas-te pelo cabelo abaixo ou pés acima,
Porque tudo depende das tuas manias,
De costas, de frente, a beber água.

Mas és ternura e essa pecabilidade,
E há o silêncio da exterior chuva.
Dás a tudo o resto grande enorme luva,
Quiçá verás a responsabilidade.

Em ti desconheces a contrariedade,
Essa poetização é de novo turva.
Uma lista gasta que se coadjuva,
Porque no fim, crê-se simplicidade.

Porque és tu essa caminhante discreta,
Porque és o Fado que se cobre com a manta.
Porque há vida em alguma marioneta,

Porque há o querer bifurcar a garganta.
Porque o sol finge que por isto se veta,
Porque não irá o tempo que não se agiganta.

Chamo o teu nome,
Olhas para mim mas o resto não conta histórias…

quarta-feira, 20 de junho de 2018

Aquele


Tu és aquele…           
Jogo jogado fora contra a aldrabice do real,
Aquela chuva miudinha que me envolver com o cobertor que talvez nalguma altura ser-me-ia emprestado,
O que me empresta o cérebro a troco do meu,
E temos assim um tipo de sangue.

E sim,
És um doido mas não tens razão para,
Exceto eu e os meus botões camaleónicos,
Mas calma que não dissemos tudo pela calada da queda mais transparente que possa existir,
E às vezes levas-me a dançar o batuke aos pontapés enquanto ouço jazz sossegado, ainda mais assim,
Nada certo por acolá.
Acabas a alegoria que acaba com o meu sido,
Contas-me Estórias para a Boquinha da Noite,
Comes comigo o gelado e pipocas salgadamente doces,
Se nos caio é por passado enquanto.

De novo és aquele,
Por algum motivo julgo carregar-te enquanto te ris…
De mim, talvez.
Algum dia hás-de entender estes aqui que vivem,
Mas sim,

Sou loucozito enquanto não falo contigo,
Depois disso descubro a jogatana das luzes com esse transtorno associativo de identidade,
Por isso vê lá se vais concordar-me,
Pois sei que adornas os meus sentimentos enquanto defecas as seitas através de todo o vómito,
#cantoparaocanto.
Para abrandar tenho de abrandar,
Mas primeiro tenho de pôr em dia o estudo à tua regra de seis simples,
Nem a ti mesmo te minto,
Portanto é claro que não corro o chão.

Ninguém ouve os teus gritos?
Rapaz,
Só nós andámos juntos a jogar às cegonhas,
Só nós fizemos a chaga ao pequeno-almoço,
Só nós ganhámos a minha noção,
Só nós nos tropeçámos em nome dessa poesia…
Essa aqui.
Grande envergadura é a nossa carne até apareceres,
Porque és aquele que encaminha o meu prólogo cremado,
E o que eu digo

É o miseravelmente mísero crente que não crê enquanto crê,
Mas foste tu quem não me apartou do aparte mas até que me foi talvez apartando do aparte,
E sabes como se engorda a maluquice grisalha,
Às tantas esqueces-te

E depois desdobro,
Por tudo isso não te engano quando monto este cavalo de pau,
Qual, perguntas?
Desde que começaste a brincar comigo começou a chover sempre com acompanhamento de excesso de velocidade, tudo isto num raio que só cobre o cavalo de pau que nem sequer tentou fugir.

És celeste entre quatro paredes,
Deixas-me deitado na cama,
De costas voltadas contra o chão,
Mas com a cabeça a olhar para o teto,
Explica lá essa pseudo-quimera que diz que ser fruto de todas as minhas cambaleantes e cadentes quimeras.

Alguém disse que eu sou um chato,
Por isso mesmo é que o sou,
Uma vida que não seja chata…
Que alguém me diga que não estou mal,
Porque gozo com o que faz sentido.
Nada é nada do que quero exceto o que me dizes.
Se cambaleei as minhas palavras
Foi porque não estava a falar com a tua pessoa,
Já sabes que devias ser um monstro,
Mas assistes,
E vais assistindo enquanto abraças o meu caixão para depois me enviares esses teus tiques nervosos,

Ou se calhar ainda não virei a cabeça para cima,
Quem é que te envia essa deglutição de parvo?
O proscénio deste palco esvazia-se contigo,
És agressivo ao gosto da brincadeira,
É sempre puérpera a tua agilidade,
E o teu relógio acerta às vezes por dia,
Não tens lei alguma a não ser a minha,
Não tenho lei alguma a não ser a tua,
Mas que anarquia é esta?

Não sabes,
E eu não quero,
Ou talvez saiba muito bem a sua existência,
Mas para já só nos sei.
Para já somos aqueles que contam os dedos antes de não os cortar,
Mas agora percebo
Que se calhar és aquela.

terça-feira, 12 de junho de 2018

Café

Esperei um pouco,
e a senhora e a criança e a rapariga e o rapaz e o homem tinham todos muita coisa para dizer à gente,
ou somente à minha voz,
mas vou tomar um café e vai ser extra forte-calmo
Vou conversar,
Nem que seja contigo, meu recipiente,
Mas agora estou à não-espera,
Porque a minha casa faz de conta que está longe,
Porque o meu sobrinho pode vir ter comigo a qualquer altura,
Nem que seja para me mandar ir para o trabalho.
Um café salva vidas quando se bebe devagar

segunda-feira, 11 de junho de 2018

domingo, 10 de junho de 2018

Baú

Abri a carne e exibi o peito ao som da raiva incessantemente incessante do silêncio,
rendilhei o baú e abri-o todo,
gozar com o universo sabe mesmo bem,
e o baú nunca se queixa
da pancadaria à volta do eu.

Coisas de nuvens fazem chover,
um baú pode ter um sofá fora dos tesouros,
é uma questão de escrutínio esquisito,
e abraço o que sei dentro do tesouro,
fila em círculo onde o nada só gasta,
procura calmo na casa do desaforo,
em nome do Nosso Senhor Baú iconoclasta.
Baú amado,
cuspi as tuas purpurinas enquanto incendiava o meu carro roubado antes das havaianas.

Embelezei a tua morte
enquanto brincavas com as emoções dos pobres ao virar da esquina,
enfim,
o teu coração roubado já não é louco,
e com força arrotas a chave,
és dourado dessa alquimia de novo roubadamente devolvida à tua seletiva vontade.
És mais profundo que esse Evereste pontapeado,
também eu canto o paupérrimo que abrange a guitarra e o piano que te são, guardas o saxofone e todas as salivas para ti enquanto és louco para nós, pois o nome do poder é cedido a quem nem encontra o tesouro ao sabor da nossa idiotice, acelerada pela vontade de abranger onde nada se existe sozinho.
E sim, adoras-te e adoraste.

A fotografia agarra-te e tu come-la,
mas para já compras uma casa duas vezes em cantos opostos,
e descobrimos novos baús,
não há deserto que recorde os teus jornais, as tuas fotografias,
a tua alma, os teus tesouros,
a tua alma, os teus tesouros,
e por aí fora.
Não há memória que apague o teu esquecimento,
por aí se jorra o que o baú esconde e não esconde,
enquanto se deambula pelo que és dentro,
até ao dia em que por fim todo o baú só se arredonde.

Ah, como é bela a poesia, e o resto.