Não me afogues já,
Quero tudo ao mesmo tempo!
Que será isto de ser um saco de
plástico? Só sei que bebo respirações à pressa e continuo a revelar estes
estímulos que revogo para todos. Passo o tempo a rebentar chamadas para o
futuro que há de nos encher as medidas, mas não somos jarros nenhuns para que
eu ouse essa insolência que me parte todos os dias fora de casa.
Trocamos a vida pelo que ela nos
faz, e quem sou eu para despir e vestir a verdade enquanto encho o saco à
bruta? Sou completamente louco pelo encher do vazio já cheio que engordo
enquanto vou lendo as minhas existências, e ainda que seja o querer garrafa…
acabo a querer ser saco, e não nos fartamos do choque nómada que é a cultura
cultureira. Talvez sejamos todos sacos, mas se nós fartámos ou não é a questão
que mais sacos enche, sacos esses que possivelmente acabam despidos a cada vez
que trivializamos, como quando vamos às compras, mas nada é mais ténue que o
estado de espírito de um saco de plástico, mesmo que o decidamos endurecer ao
pagarmos um pouco mais. A nossa boca de sal tempera a comida em que não
entramos pela goela abaixo, e por isso duvidamos que não haja enchimento cheio
o suficiente para esvaziar tudo por aí espalhado ao sabor de tudo aquilo que
nos frustrou silenciosamente.
Quero a vida ao mesmo tempo,
despejar não é o que abranjo nem será nunca a vontade fora das minhas sombras,
ainda que não seja eu o sol que enche os sacos todos à hora esta de dia assim.
Quiçá um dia me tenha afogado no saco de plástico para avançar pelo som do que
não ouvi no autocarro, ou fazes faísca no saco ou o saco faz faísca, e ponho os
fones a cada vez que vou às compras com as minhas crenças. Por estas e por
outras gosto de partilhar os sacos com os meus amigos por aí por onde vivemos
tresloucadamente lúcidos enquanto aparvalhamos e não aparvalhamos as compras.
Outro dia quase desperdicei o
saco que carrego com a vida toda, não sei se sei ou se sei saber em que dia
foi, mas ouvi o eco do fundo e voltei-me para todos nós, poderá ter sido em
Loures, Londes, Punta Cana, lado nenhum… Tudo o que sei é que se atingiram em
mim as terras que explorei quando saiu de mim o que acontece em tudo isto que
abraço fervorosa e carinhosamente, quer haja dono, quer haja nada, e nada disso
vale tudo o que apenas valeu no antigo tempo que em mim de antigo nada tem. Desde
esse dia divago silêncios e calo-os quase sempre, e a minha conversa enche e
esvazia o saco, por isso talvez resulte por aí, é essa a incógnita do ar que
passa pelo saco sem sequer lhe pagar o jantar primeiro, não se sabe e só se
sente com um típico atraso. E sem me aperceber posso ter ganho pais novos que
substituíram os anteriores, que tal como eu, já estavam velhos demais para
encher o saco a seja quem for. Por isso tudo digo que às vezes devíamos
apaziguar mais a nossa sorte, e também esmiuçá-la com a mais alta quietude…
talvez.
Acabo a saber e por saber que o
meu saco está a abarrotar outra vez, mas tudo isto tem tanta piada que se
calhar um dia ousarei voltar a voltar para casa.
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